A ansiedade curou-me

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Fantástico testemunho do grande Tiago 
imagem em equilibrioemvida.com
Nunca escrevera sobre tal coisa. Aliás, se há anos atrás me dissessem que eu escreveria algo opinativo sobre este tema, eu acharia que essa pessoa estaria a mentir. Quem olha de fora para a ansiedade ou para qualquer doença mental não consegue perceber como é que esta se comporta, pois, os seus sintomas não são visíveis aos olhos dos outros. Entendo esse lado das pessoas que nunca viveram com isso e aceito perfeitamente que o estranhem. Eu já fui uma dessas pessoas.

Num momento em que vivemos uma verdadeira pandemia mundial, decidi ser egoísta e falar sobre aquela que é considerada a doença do século – a ansiedade. Também por muitos conhecida como a “doença da moda” (palavras de indivíduos de quem já tive o prazer de chamar “colegas”), conheci-a e comecei a conviver com ela em meados de abril de 2018. E acreditem ou não, foi a melhor coisa que me aconteceu na vida.

 Sempre fui uma pessoa tímida, reservada e evitava expor-me às pessoas que não conhecia. Nessa altura, em abril de há dois ano atrás, vivia o meu segundo ano académico, esse período que quem o viveu sabe que é um entra e sai de pessoas. E muito provavelmente eu importava-me demasiado com pessoas, na generalidade do termo, e com aquilo que elas iam achar de mim. No fundo, só queria que todos achassem que eu era super cool e engraçado. Era tão ingénuo, não era?

Lembro-me da primeira vez que senti a ansiedade na pele. Estava a caminhar na rua, sozinho, num dia solarengo e caloroso de abril. Sinto um desequilíbrio e uma tontura em mim, assim como um aguaceiro de pensamentos na minha mente, maioritariamente - “Vou desmaiar.”, “Não posso desmaiar, as pessoas vão gozar comigo.”, “Está toda a gente a olhar para mim.”, “O que é que se está a passar comigo?”. O mais certo é que ninguém estivesse a olhar para mim. Era só o meu subconsciente, esse ser horrível, a achar que eu era importante e que necessito de ter a atenção dos outros. E não, não desmaiei, mas nesse mês tranquei-me em casa, por não saber o que era aquilo que estava a sentir e por ter medo que acontecesse de novo. Ou seja, tinha ansiedade por ter ansiedade.

Passaram-se dois anos. Durante estes dois anos, muita coisa mudou. A ansiedade manteve-se, mas não como a conhecera. Mas a principal mudança, fui eu que a fiz. Percebi que para ultrapassar isto tinha que fazer um reset dos meus valores enquanto ser humano. Percebi que é impossível eu fazer com que os outros gostem de mim. Percebi que eu sou responsável por aquilo que sinto e pela forma como lido com as coisas. E percebi que havia muita mais gente a passar por isto. No fundo, percebi que a cura estava no mesmo local que a doença.

Há uns tempos atrás, quando contraí uma mononucleose e tive de ficar um mês retido em casa, fiquei consciente daquilo que queria para a minha vida. Tive uma verdadeira epifania. As coisas não me corriam bem na vida, pois também tinha ficado sem emprego. Como ansioso que sou, antes de saber o diagnóstico da mononucleose imaginei que tivesse uma doença que me levasse para a morte. Tinha muito medo da morte. No fundo, tinha medo de que esta me levasse sem eu ter tempo de aproveitar a vida. Mas, a verdade é que ao ter medo da morte não estava sequer a aproveitar a vida. E cheguei à conclusão de que não há nada melhor do que saber que somos imortais e que a morte um dia bate à porta. Torna as nossas emoções mais reais e mais espontâneas. Leva-nos a querer dizer, fazer, enfim … viver. Sem medos, sem complexos. Nós, ansiosos desta vida, não podemos por a culpa na sociedade pela nossa “doença”. Temos de assumir aquilo que sentimos e aceitar que isto faz parte de nós.

A ansiedade não tem cura, mas curou-me de maiores males. Pus para trás coisas que não interessavam. Pessoas que não interessavam. Problemas que não interessavam. Trouxe-me pessoas que eu amo e que me aceitam tal e qual como sou. Trouxe-me problemas pelos quais vale a pena procurar a solução. Porque este é o propósito da nossa vida – lutar por aquilo que achamos que faz sentido. Não nos vitimizemos pelo nosso fado, mas sentemo-nos para apreciá-lo. Brindemos aos problemas da vida!



P.S. – Recomendo vivamente a leitura do livro “A Arte Subtil de Dizer Que Se Foda”. Foi uma verdadeira chapada de luva branca que eu precisei de levar. Procurem também ajuda de um bom psicólogo, sem medo de abrirem a vossa mente. Por fim, certifiquem-se que têm as pessoas certas à vossa volta. E voilá.



Tiago Moura

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