Surto Psicótico por canábis: como um"simples" acontecimento pode mudar uma vida

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Bem, nem sei por onde começar esta "história". Chamo-me Pedro, tenho neste momento 17 anos, e posso dizer que sempre tive uma vida feliz, os meus pais têm um bom carro, uma boa casa, tenho uma família que me ama e faz de tudo para eu estar bem, sou (ou era) uma pessoa bastante sociável, com um grupo de amigos bastante amplo, porém houve um acontecimento que mudou a minha forma de olhar para a vida.

Antes disso, quero falar de outro tema. Há cerca de um ano, apaixonei-me por uma rapariga pela qual o amor não foi correspondido. Algo que nunca me tinha acontecido, geralmente era sempre ao contrário, pois sempre fui bastante apreciado pelo sexo feminino. Com isto a acontecer, sofria bastante, chegava a casa e passava tardes a olhar para o teto a chorar á espera de uma mensagem que nunca chegava, e então comecei a praticar maus vícios, apesar de na altura parecer a única solução e a única forma de me abstrair disso. Passado alguns meses, já estava dependente do tabaco para me sentir bem, parecia que se não fumasse aquele cigarro que tinha no maço nada estava bem, a nicotina estava a apoderar-se completamente de mim. Cheguei a sair á noite com amigos ou dormir fora e a fumar 1/2 maços por noite, e apesar de maior parte das vezes nem me apetecer fumar, fazia-o na mesma para os meus amigos pensarem que eu era o maior. Numa dessas saídas á noite, estava com o meu grupo de amigos numa esplanada a fumar, até que um deles mostra uma  pequena saca que continha cannabis. Maior parte  estavam e estão habituados a fumar, porém eu nunca o tinha feito, nem tinha curiosidade, pelo menos até ter este desgosto amoroso. Fomos para um sitio mais escondido e eles começaram a enrolar, e posteriormente a fumar. Quando o começaram a fazer, despertou-me alguma vontade de saber qual era a sensação, e como me sentia triste, pensava eu que era mais uma forma de sair do meu mundo e ter novas experiências. Dei 2 ou 3 passas, mas não senti nada, foi como se não tivesse fumado. Passaram-se meses sem fazê-lo, porém o tabaco tornava-se um hábito cada vez mais regular e mesmo depois de ter esquecido a rapariga e ultrapassado o desgosto, já não conseguia deixar de fumar (pelo menos pensava eu).

Agora vou contar-vos a pior experiência da minha vida. Há cerca de um mês atrás, para ser mais preciso, no dia 15 de agosto de 2020, decidi sair á noite com o meu primo alemão que estava de férias cá. Fomos a um bar, apresentei-o aos meus amigos mais próximos, tivemos a conviver durante 2 ou 3 horas, bebemos uns shots e fomos fumar uma shisha. No fim, decidimos ir para umas bombas de gasolina conversar, até que um deles diz que tem erva consigo. Eu, como pessoa estúpida e inconsciente que era, fui o primeiro a dizer para fumarmos aquilo, pelo simples motivo mais uma vez de querer que pensassem que sou o maior e o mais fixe de todos. Não tinha  nenhuma necessidade de o fazer, estava tudo perfeito na minha vida. Fomos para dentro do carro, fechamos tudo e fizemos a chamada "estufa". Cada um puxava 2 vezes e passávamos, éramos 4. No preciso momento em que dei a última passa, nunca mais fui a mesma pessoa. 

Tive um surto psicótico horrível, algo que não desejo a ninguém, vi coisas inimagináveis, sentia que ninguém me estava a ver, que eu não existia, que era tudo um sonho e que quando fosse dormir não ia acordar mais. Estava sempre a chorar e a pedir ás pessoas para não olharem para mim da forma que o estavam a fazer, não me lembrava se falava ou se era apenas o meu cérebro a pensar no que dizer, perguntava aos meus amigos se me estavam a ver, se eu existia, quem era eu, entre muitas outras coisas que só um louco diria. Foi a pior sensação da minha vida, senti a morte á minha frente, e só de falar sobre isto arrepio-me completamente. Dirigi-me ao hospital mais próximo, porque sentia o meu coração a bater muito rápido, como nunca tinha batido. Estava com mais de 200 pulsações por minutos, á beira de um ataque cardíaco. Tomei 2 comprimidos para me acalmar e em cerca de 30 minutos as minhas pulsações estavam estabilizadas. Mas o surto não parava, continuava a sentir as mesmas coisas, parecia que a minha alma estava a sair de mim e o meu subconsciente era a única coisa que restava. Eu andava e não sentia o chão, abraçava-me ao meu pai com a maior cara de desespero possível por não saber se aquilo era um sonho ou a realidade, é inexplicável o que aquilo me fez sentir.

Desde esse dia, não consigo olhar para a vida com uma cara feliz. Questiono-me muitas vezes qual é o meu propósito aqui, de onde vim ou para onde vou, tenho crises existenciais muito recorrentes, ataques de ansiedade, ataques de pânico, o que eu considero uma das piores partes, pois não consigo distinguir o que é real ou não e sinto coisas semelhantes áquele dia. 

Mas o pior de tudo, é o medo. Medo de não acordar amanhã, medo que o meu coração pare de bater, medo de ter alguma doença á mínima dor que tenha, medo de tossir, medo de correr porque o coração vai bater mais rápido, até medo de dar gargalhadas! Acima disto tudo, está o medo de morrer cedo demais, de não aproveitar a vida ao máximo, de não poder ver os meus filhos a crescer como os meus pais presenciaram ou não poder levar os meus netos ao parque como os meus avós o fizeram. 

Foi preciso estar ás portas da morte para perceber o quão valiosa a vida é, desde esse dia nunca mais toquei num cigarro ou em qualquer tipo de droga, nem bebi álcool, e sinceramente, duvido muito que o vá fazer o resto da vida. 

Nas últimos tempos tenho-me sentido muito melhor, há alturas em que a ansiedade e os pensamentos ainda tomam conta de mim, mas tento sempre fazer algo para me divorciar deles, como me ensinou o meu psicólogo.

Espero que isto seja apenas uma fase, e que volte a olhar para a vida com felicidade e objetivos traçados, como tinha antes.

Já aceitei que um dia vou ter que morrer, afinal todos vamos, só me falta perceber que não vai ser tão cedo.

Também já percebi que a culpa de me sentir assim é minha, o que me deixa revoltado, pois o facto de querer ser o mais fixe fez com que eu passasse a ser o mais triste, o que não sai de casa porque tem medo de ter um ataque, o que faz sofrer as pessoas que mais me amam porque não sabem como me pôr bem, e principalmente o que não sabe se algum dia voltará a ser feliz.

 

 

 

 

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